Nela foram reunidos os desenhos da série Azuis e as esculturas.
Convite da exposição "Razoável Controle" |
Convite da exposição "Razoável Controle" |
- Folder da exposição Razoável Controle.
- Texto do curador de arte Felipe Scovino.
CORPOS EM MUTAÇÃO
O trabalho de Leonardo Etero é uma intensa investigação e
descoberta sobre as infinitas possibilidades do corpo se aventurar no espaço.
São índices de corporalidade que se fazem presentes entre gestos ora delicados,
por outros com tendências surrealistas e oníricas, e em outros momentos com uma
contundência ímpar sobre a relação que o sujeito mantém com o mundo. Esta
última circunstância aparece na incongruência de paisagens, movimentos e formas
que o artista constrói se tivermos o mundo real e rotineiro como modelo. Etero
constrói uma fabulação, que apesar de compreender gestos ou idéias fantasiosas,
possui um elo de reconhecimento e transferência com a realidade. Particularmente
em seus desenhos, a figura humana ou vestígios dela estão quase sempre em um
estado de solidão e despertencimento. São figuras, ou “sombras” ou ainda partes
de um sujeito, que tendem a um descobrimento sobre si e por conseguinte sobre o
mundo. Percebemos essa vontade e persistência em obras, por exemplo, que exibem
o autorretrato do artista, ou em outra na qual um corpo se esvai em uma queda
ou ainda quando um homem se ergue (ou desabrocha?) e ao mesmo tempo cai. São
cenas que revelam fragmentos, partes de corpos, e substancialmente índices de
uma subjetividade em busca de um equilíbrio. O amor e a compaixão atravessam
essas fábulas criadas pelo artista. Em duas obras, a figura da mão transforma
em um degrau completando a ausência de um degrau e permitindo que um pouco da
esperança por um mundo melhor, mais digno, fraterno e igual esteja presente.
São corpos que elaboram e se constituem pela falta; que
desejam não só um pertencimento e reconhecimento do mundo mas
significativamente um olhar mais afetuoso e sensível sobre a vida. O termo
mutação vem da capacidade desses corpos sinalizarem mudança, dinamismo,
elasticidade. Nem sempre são corpos desejáveis ou que criam uma empatia com o
espectador, mas paradoxalmente sua força reside nesse estranhamento, pois
reside neles uma força vital, um desejo de mudança e liberdade. Suas esculturas
parecem se desfazer, especialmente em “Cabeça de Vento”, ao mesmo tempo em que
apontam uma dinâmica própria e veloz ao bronze. A solidão aparece em sua escultura
em uma obra como “Indiferença”, na qual a incomunicabilidade de um casal (e
aqui mais uma vez a dualidade se faz presente, pois os índices de gênero, que
são perceptíveis pelo salto alto da mulher e o pé descalço da outra figura,
fazem parte do mesmo corpo e estão de costas um para o outro) rege a cena.
Mesmo que parta de ficções, existe acima de tudo um retrato íntimo e verdadeiro
da relação (trágica) do sujeito em confronto com o mundo. É perspicaz como em
um mesmo desenho, mesmo que ele seja preenchido por histórias isoladas ou
fragmentos do cotidiano, Etero nos surpreende com uma sintonia entre elas.
Isolamento, agonia, união, amor, dor, circunstâncias ficcionais e reais
tornam-se um amálgama sobre a compreensão e a existência do homem no mundo.
Felipe Scovino
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